terça-feira, 14 de outubro de 2014

Saudades, ALMEIDA GARRETT

Leva este ramo, Pepita,
de saudades portuguesas;
é flor nossa, e tão bonita
não na há outras devesas.
-
Seu perfume não seduz
não tem variado matiz,
vive à sombra, foge à luz,
as glórias d’amor não diz;
-
mas na modesta beleza
de sua melodia
é tão suave tristeza,
inspira tal simpatia!…
-
E tem um dote esta flor
que de outra igual não se diz:
não perde viço ou frescor
quando a tiram da raiz.
 -
Antes mais e mais floresce
com tudo o que as outras mata;
até às vezes mais cresce
na terra que é mais ingrata.
-
Só tem um cruel senão,
que te não devo esconder:
plantada no coração,
toda outra flor faz morrer.
-
E, se o quebra e despedaça
com as raízes mofinas,
mais ela tem brilho e graça,
é como a flor das ruínas.
-
Não, Pepita, não ta dou…
Fiz mal em dar-te essa flor,
que eu sei o que me custou
tratá-la com tanto amor.

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