terça-feira, 11 de outubro de 2016

http://buggyandbuddy.com/process-art-for-kids-using-plastic-wrap-and-watercolor-paint/
http://fun-a-day.com/tape-watercolor-art-process-for-kids/


http://teaching2and3yearolds.com/preschool-fine-motor-art/


http://artfulparent.com/2015/05/rubber-band-printing-with-kids.html
http://www.fantasticfunandlearning.com/racing-rainbow-painting-cars.html

http://buggyandbuddy.com/popsicle-stick-and-yarn-spiderweb-craft-for-kids/
http://www.designimprovised.com/2013/09/halloween-crafts.html

Fala a preguiça

Eu gosto tanto, tanto ,tanto
de estar quieta, muito parada,
de fazer nada, coisa nenhuma,
e de fazer isso, que é não fazer
e de não estar, não ir, também.
Eu cá faço nada e todos
me dizem que faço isso muito bem.

Faço arroz de nada, pudim de nada
(que não é nada, está-se mesmo a ver)
e é tudo muito bom, delicioso,
só por não ser preciso fazer.

Eu faço nada, sou um nadador,
mas não daqueles que nadam mesmo,
O que é cansativo, tão maçador;
é que nadar, cá para mim,
tem um defeito insuportável:
aquele erre que está no fim .

E não digam que não faço nada
porque eu faço isso o mais que posso
e se não faço mais é porque mesmo nada
fazê-lo muito é uma maçada.
Não quero ir. Ainda é cedo.
Que pressa é essa? Não pode ser!
Deixem-me estar porque eu hoje tenho
bastante nada para fazer.


ÁLVARO MAGALHÃES
de O Brincador


http://conta-meumconto.blogspot.pt/search/label/%C3%81lvaro%20Magalh%C3%A3es

O Limpa - Palavras


Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.

Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.

A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papeis no ar
e é preciso fechá-la na arrecadação.

No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão para longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra,
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.

A palavra obrigado agradece-me.
As outras não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.

Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes a mão para apanhares
a palavra barco ou a palavra amor.

Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.

ÁLVARO MAGALHÃES
O Limpa-Palavras e Outros Poemas

http://conta-meumconto.blogspot.pt/2008/02/o-limpa-palavras.html

“Mistérios de escrita” de Álvaro Magalhães 


Escrevi a palavra flor.
Um girassol nasceu
no deserto de papel.
Era um girassol
Como é um girassol.
Endireitou o caule,
sacudiu as pétalas
e perfumou o ar.
Voltou a cabeça
à procura de sol
e deixou cair dois grãos de pólen
sobre a mesa.
Depois cresceu até ficar
com a ponta de pétala
fora da Natureza.

in O Limpa-Palavras e Outros Poemas

https://palavrasdesever.wordpress.com/2015/06/08/misterios-de-escrita-de-alvaro-magalhaes-selecao-de-ana-beatriz-rocha-5-od/