quarta-feira, 2 de abril de 2014


Uma família de ratos recolhe provisões para o Inverno. Todos trabalham... Todos menos Frederico que, embora aparentemente não faça nada, também aprovisiona, ainda que seja outro tipo de recursos: raios de sol, cores, palavras... 

Quando chega o Inverno, comprova-se que o trabalho poético deste pequeno rato era diferente das tarefas desempenhadas pelos demais, mas passa a ser imprescindível para que todos os ratos consigam ultrapassar a crueza desta estação. Assim, neste texto, Frederico é aceite tal como é, e não lhe acontece o mesmo que à desgraçada cigarra da fábula.
Leo Lionni é um dos grandes artistas pioneiros do moderno livro ilustrado. Em "Frederico", o autor reformula a fábula da cigarra e da formiga, alterando o seu significado moral e aprofundando o seu conteúdo sem perder a simplicidade, de modo a que qualquer um de nós possa entendê-la.
Um dos grandes temas da história é a individualidade, a descoberta e a aceitação da identidade própria: Frederico é poeta e demonstra que, à sua maneira, também contribui para o grupo. O livro apresenta-nos o artista, não como um ser auto-marginalizado ou rejeitado, mas como uma pessoa necessária às demais. Perante o valor do trabalho, Frederico recorda aos leitores a necessidade de nos alimentarmos de outras coisas para além de palhas ou nozes.
Mas vai mais além. Para muitos, Frederico poderá parecer egoísta, mas o egoísmo do protagonista é simplesmente a fidelidade a si próprio. Os seus companheiros, longe de recriminá-lo, deixam-no meditar, respeitam a sua introspecção e sentem verdadeira curiosidade pelo seu mundo, ao qual, finalmente, acabarão por agradecer.
Com a sua história, Lionni parece transmitir às crianças a importância da liberdade individual: os leitores sentem-se amparados, pois sabem que os ratos respeitam a individualidade de Frederico, o que satisfaz até o leitor mais inseguro. É como se lhe dissesse que cada um pode ser o que deseja e sê-lo sem receio, uma vez que os outros irão entendê-lo...

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