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domingo, 13 de novembro de 2016

A Árvore, a Estrela e a Pequena Mão


A pequena mão desenha a árvore 
onde uma estrela se aninha para dormir. 
Que dia será o de amanhã 
no meio dos escombros onde o eco da súplica 
enlouquece os cães famintos? 
Quadro trágico para uma noite assim. 
A pequena mão pega na borracha 
e tenta apagar toda a dor do mundo 
e acender com um novo traço 
a claridade que resgata a alma. 
A estrela acorda numa copa alta 
e segue o caminho do que sabe 
até encontrar a pequena mão 
que tudo reinventa à medida do que somos. 
Quando o encontro acontece 
já não é noite nem dia, tempo infinito, 
mas apenas um lugar onde o choro das crianças 
de súbito se transforma em cântico. 

A pequena mão desenha tudo 
o que falta desenhar para o sonho fazer sentido. 
É uma mão frágil mas firme, apenas sábia, 
e quando abre o livro azul das manhãs 
é sempre para escrever as palavras 
que o estrondo abafou nas cidades feridas. 
A pequena mão desenha uma árvore, 
uma estrela e uma mãe aflita. 
Depois desenha uma linha de horizonte, 
uma constelação e uma pequena arca. 
Um traço basta para criar a luz. 
Depois tudo é mistério e júbilo. 
Que ao menos esta noite ninguém se esqueça 
da árvore, da estrela, da lenda 
e da magia da pequena mão afagando a vida. 

José Jorge Letria, in 'Antologia Poética' 

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